O meu canto no espaço colectivo dos Fur. Mil. da 1ª CCaç em Mocímboa da Praia.
Esta foto de 1973 retrata o meu "cantinho" que alguns problemas me trouxe com o comando do BCaç 4213. Era, por assim dizer, o meu silencioso grito de revolta na Guerra Colonial e sublinhava alguns dos "interesses" dos meus vinte anos.
Passo a explicar: na parede estavam coladas algumas frases (slogans) revolucionárias (ao tempo); um cartazete dos direitos da criança; uma foto com uma mão a agarrar o símbolo da paz, muito usado na altura; um postal com várias cabeças do Che Guevara e algumas das suas frases revolucionárias internacionalistas; foto da acta da aprovação dos direitos do Homem; Uma foto de Joni Mitchell em Woodstock e, talvez a mais polémica (?!) a bandeira da Frelimo que abaixo reproduzo.
Na minha estante/secretária, construida a olho com madeira das caixas de munições, alguns livros como por exemplo, a poesia de José Afonso (retirada do mercado pela Pide/DGS), Pablo Neruda, livros de arte, filosofia (Engels também), jornais com mais de 3 meses (entre eles o Notícias da Amadora à altura), a Seara Nova, cassetes do Zeca Afonso, Luís Cilia, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, clássica, rock, folk, etc. tudo o que desse para misturar e confundir.
Quem não ia muito em "misturas" era o comandante (as várias ordens de "limpeza" nunca foram cumpridas) e, principalmente, o major 2º comandate que me prometeu vida negra em longa comissão "vigiada por quem de direito", depois de terem aparecido uns panfletos anti-guerra colonial e opressão do povo moçambicano no aldeamento onde havia mais macondes em Mocímboa. Por coincidência e pela mesma altura, houve um levantamento de rancho no aquartelamento em protesto contra as condições alimentares e outras.
Com tão bom prognóstico astral, só o 25 de Abril evitou que as coisas se tivessem complicado mais. Fica-nos a recordação e a esperança de não termos de voltar aos mesmos estratagemas.
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