quinta-feira, 20 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - 1ª CCAÇ - O Búfalo do 2º GC




      2º Grupo de Combate em acção de patrulhamento há alguns dias. Como diziam as normas de segurança, a pernoita era em círculo, não muito perto de árvores, mantendo a rotatividade na vigilância. No centro do círculo o homem das transmissões, o enfermeiro e os graduados, neste caso, os Furriéis José António Pereira (Tony) e José Amaro Vilas.
      O sol nascera há pouco e o Grupo preparava-se para saborear, pelo segundo ou terceiro dia, o leite condensado dissolvido em água com as bolachas de água e sal (6 em cada dia) ou, para os mais esfomeados (todos!), uma lata de porco com feijão ou mão de vaca com grão (50 a 70 gramas cada lata). Iguarias que faziam parte da ração de combate "Tipo E" distribuída.
 
      De repente gerou-se o reboliço. Um enorme búfalo (animal com perto de 900 kg) saía da mata em correria desenfreada direito ao círculo. O soldado africano Camisa, de vigia nesse lado, não teve alternativa e improvisou uma pega de caras que lhe valeu 4 ou 5 costelas partidas.
      Levados pela surpresa e numa reacção rápida, os soldados dispararam para o búfalo que já estava no centro do círculo esquecendo-se de que, do outro lado, estavam outros camaradas. O resultado saldou-se em mochilas e cantis furados e um tiro numa coronha de G3.
      O Furriel Vilas ainda estremunhado, negou-se a ser o segundo forcado da fila a pegar a besta e desatou em correria, alongando as pernas e os braços para a árvore mais próxima, cada vez mais longe. Não aguentando a corrida matinal sem aquecimento, tropeçou e foi atropelado o que lhe valeu uns arranhões e umas nódoas negras nas costas.
      Em perseguição feroz, os soldados do Grupo continuavam a disparar para o animal que se ia aguentando até ser atingido num joelho, fazendo-o cair e ser fuzilado ali mesmo sem dó nem piedade.
 
Transportado para o aquartelamento de Mocímboa da Praia foi esquartejado, a muito custo, sob as ordens do Capitão Ulisses com vasta assistência faminta.
      No corpo já trazia 3 ou 4 tiros de Kalashnikov o que nos fez duvidar se teria sido o 2º Grupo de Combate da 1ªCCAÇ o merecedor do prémio da melhor pega em mata moçambicana.
      Uma coisa é certa. A dureza da carne era tal que mesmo esfomeados como andávamos, ninguém lhe conseguiu ferrar o dente. Saboreámos-lhe o cheiro em forma de bife.
 
(foto cedida pelo Celestino)

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