domingo, 23 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - 1ª CCAÇ - Festa é festa


Se conhaque era conhaque, festa era festa.
Poucas vezes conseguimos estar todos juntos derivado ao sistema de rotação de, pelo menos, três Grupos de Combate no mato. No entanto, por vezes e por horas, encontravam-se dois grupos operacionais no aquartelamento de Mocímboa da Praia. Com a boa assistência dos "não operacionais", peças fundamentais para que tudo fosse correndo bem no mato, no companheirismo e na amizade, rebentava a "festa" para comemorar uns anos, um nascimento de filho ou, pura e simplesmente, comemorar o facto de estarmos vivos e entre amigos.
 
Na foto, Fur. Mils. Carlos Ferreira, José Barros, Fernando Serafim, José António Pereira (Tony), José Guerreiro, José Alberto Amorim, José Amaro Vilas entre outros.

José Barros num golpe de tesoura ajudado pelo Tony. Ao fundo, Guerreiro, Rui Lindo e Vilas.

Não sei se o Vilas e o Serafim estariam a jogar xadrez mas que o Ferreira, o Barros e todos os outros ajudaram na disputa, não restam dúvidas.

Dia de festa, comemora-se!

O Tony na fase de maestro da orquestra agora em surdina. O Ferreira ambienta o conjunto com instrumento de sopro.
 

Fim de festa. Que pena, logo já é outro dia, parecem pensar o Guerreiro, o Tony e o Barros.

(fotos cedidas por José Barros)
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - 1ª CCAÇ - O Búfalo do 2º GC




      2º Grupo de Combate em acção de patrulhamento há alguns dias. Como diziam as normas de segurança, a pernoita era em círculo, não muito perto de árvores, mantendo a rotatividade na vigilância. No centro do círculo o homem das transmissões, o enfermeiro e os graduados, neste caso, os Furriéis José António Pereira (Tony) e José Amaro Vilas.
      O sol nascera há pouco e o Grupo preparava-se para saborear, pelo segundo ou terceiro dia, o leite condensado dissolvido em água com as bolachas de água e sal (6 em cada dia) ou, para os mais esfomeados (todos!), uma lata de porco com feijão ou mão de vaca com grão (50 a 70 gramas cada lata). Iguarias que faziam parte da ração de combate "Tipo E" distribuída.
 
      De repente gerou-se o reboliço. Um enorme búfalo (animal com perto de 900 kg) saía da mata em correria desenfreada direito ao círculo. O soldado africano Camisa, de vigia nesse lado, não teve alternativa e improvisou uma pega de caras que lhe valeu 4 ou 5 costelas partidas.
      Levados pela surpresa e numa reacção rápida, os soldados dispararam para o búfalo que já estava no centro do círculo esquecendo-se de que, do outro lado, estavam outros camaradas. O resultado saldou-se em mochilas e cantis furados e um tiro numa coronha de G3.
      O Furriel Vilas ainda estremunhado, negou-se a ser o segundo forcado da fila a pegar a besta e desatou em correria, alongando as pernas e os braços para a árvore mais próxima, cada vez mais longe. Não aguentando a corrida matinal sem aquecimento, tropeçou e foi atropelado o que lhe valeu uns arranhões e umas nódoas negras nas costas.
      Em perseguição feroz, os soldados do Grupo continuavam a disparar para o animal que se ia aguentando até ser atingido num joelho, fazendo-o cair e ser fuzilado ali mesmo sem dó nem piedade.
 
Transportado para o aquartelamento de Mocímboa da Praia foi esquartejado, a muito custo, sob as ordens do Capitão Ulisses com vasta assistência faminta.
      No corpo já trazia 3 ou 4 tiros de Kalashnikov o que nos fez duvidar se teria sido o 2º Grupo de Combate da 1ªCCAÇ o merecedor do prémio da melhor pega em mata moçambicana.
      Uma coisa é certa. A dureza da carne era tal que mesmo esfomeados como andávamos, ninguém lhe conseguiu ferrar o dente. Saboreámos-lhe o cheiro em forma de bife.
 
(foto cedida pelo Celestino)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - Transmissões e afins


Nem sempre era fácil acompanhar os Grupos operacionais da 1ª CCAÇ no seu dia-a-dia. No entanto este conjunto de "prestadores de serviços" tornavam-se também eles operacionais sempre que tinham de dar assistência ou sair com os Grupos de Combate. A eles se ficou a dever a boa conclusão de algumas horas mais difíceis.

E sempre com boa disposição. Entre eles, o Nogueira, o Celestino e o Peixeira que é um dos organizadores dos actuais almoços da CCS e 1ªCCAÇ.

Que estariam aqui a combinar?...

Desvendado o mistério: aprender a tocar corneta...

... pelos visto o resultado agradou.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - 3ª CCAÇ - Diaca


Saída de mais uma coluna de Diaca onde estava aquartelada a 3ª CCAÇ do BCAÇ 4213. Nos primeiros metros o ritual de despedida de mulheres e crianças do aldeamento.

Uma das muitas paragens na picada.

No capim, João Afonso em protecção "fotográfica".
 
(Fotografias cedidas por João Afonso)
 
 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - 1ª CCaç - Um cantinho especial



O meu canto no espaço colectivo dos Fur. Mil. da 1ª CCaç em Mocímboa da Praia.
Esta foto de 1973 retrata o meu "cantinho" que alguns problemas me trouxe com o comando do BCaç 4213. Era, por assim dizer, o meu silencioso grito de revolta na Guerra Colonial e sublinhava alguns dos "interesses" dos meus vinte anos.
Passo a explicar: na parede estavam coladas algumas frases (slogans) revolucionárias (ao tempo); um cartazete dos direitos da criança; uma foto com uma mão a agarrar o símbolo da paz, muito usado na altura; um postal com várias cabeças do Che Guevara e algumas das suas frases revolucionárias internacionalistas; foto da acta da aprovação dos direitos do Homem; Uma foto de Joni Mitchell em Woodstock e, talvez a mais polémica (?!) a bandeira da Frelimo que abaixo reproduzo.
 
 
Na minha estante/secretária, construida a olho com madeira das caixas de munições, alguns livros como por exemplo, a poesia de José Afonso (retirada do mercado pela Pide/DGS), Pablo Neruda, livros de arte, filosofia (Engels também), jornais com mais de 3 meses (entre eles o Notícias da Amadora à altura), a Seara Nova, cassetes do Zeca Afonso, Luís Cilia, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, clássica, rock, folk, etc. tudo o que desse para misturar e confundir.
Quem não ia muito em "misturas" era o comandante (as várias ordens de "limpeza" nunca foram cumpridas) e, principalmente, o major 2º comandate que me prometeu vida negra em longa comissão "vigiada por quem de direito", depois de terem aparecido uns panfletos anti-guerra colonial e opressão do povo moçambicano no aldeamento onde havia mais macondes em Mocímboa. Por coincidência e pela mesma altura, houve um levantamento de rancho no aquartelamento em protesto contra as condições alimentares e outras.
Com tão bom prognóstico astral, só o 25 de Abril evitou que as coisas se tivessem complicado mais. Fica-nos a recordação e a esperança de não termos de voltar aos mesmos estratagemas.

domingo, 2 de setembro de 2012

BCAÇ 4213 - 1ª CAaç - Defesa e auto-protecção


Na protecção das viaturas e em especial, em rebentamento das minas, era usual "carregarem-se" com bidons e sacos de areia para atenuar os rebentamentos. Neste caso, esta Berliet está reforçada também com quatro pesos pesados: Gomes, Martins, Silvestre e Celestino.

Homem previdente. A todo o aparato, o Celestino acrescentou mais umas "granadas de mão".

Um dos abrigos em Mocímboa da Praia para protecção contra ataques, principalmente bombardeamentos.

Outro abrigo junto ao arame farpado que cercava o aquartelamento. Acredito que o Celestino estava a pensar: "Vou já cortar este capim todo!". Ou será que se estava a esconder da equipa de capinagem?

Técnicas de camuflagem...

... pelo sim, pelo não, o melhor seria olhar para cima...

... mas em último caso, havia sempre um Tarzan de serviço!
 
(Fotografias cedidas por Celestino)